Natal Mágico em São Sebastião do Passé leva alegria e solidariedade aos moradores, mas ao som de “PITBUL Raivoso”

Natal Mágico em São Sebastião do Passé leva alegria e solidariedade aos moradores, mas ao som de “PITBUL Raivoso”

Imagem divulgação

Na semana que antecedeu o Natal, a cidade de São Sebastião do Passé viveu momentos de encanto e solidariedade durante o evento “Natal Mágico”. Promovido pela prefeitura municipal, as ações se estenderam pelos distritos de Maracangalha, Lamarão, Banco de Areia, Nazaré de Jacuípe e pela sede, na Praça Doze de Outubro, totalizando sete dias de celebração.

Magia e Alegria para Todos

O evento, que teve a participação especial do ilustre Papai Noel, não só proporcionou sorrisos e esperança para crianças e adultos, mas também viu a integração de pequenos moradores de todas as classes sociais. Um trenzinho, que se tornou uma espécie de carrossel da diversidade, percorreu as ruas, levando consigo a atmosfera natalina que uniu a comunidade em um espírito de celebração e harmonia.

Inclusão e Solidariedade em Foco

As inúmeras famílias e crianças, ao longo do calçadão da praça principal, aproveitaram os brinquedos gratuitos instalados pela prefeitura, evidenciando que a alegria do Natal não conhece barreiras socioeconômicas. A prefeita Nilza da Mata, em entrevista, ressaltou a importância desse evento inclusivo para a comunidade.

Prefeita Nilza da Mata ao lado do “Papai Noel”

“Mais uma iniciativa que mostra o cuidado e respeito que temos com cada cidadão. Não seria justo passar um Natal e pensar que nem todas as mesas teriam um alimento. Essa ação vem para reforçar o comprometimento da prefeitura e proporcionar momentos especiais para quem mais precisa, fortalecendo os laços com a comunidade.”

Solidariedade em Ação

Além das atividades festivas, a prefeitura distribuiu cerca de 100 toneladas de alimentos para mais de 10 mil famílias carentes, consolidando a iniciativa solidária do município.

Foto: Divulgação

O Programa Natal sem Fome, criado na gestão da prefeita Nilza da Mata, visa garantir que nenhuma família sebastianense passe o Natal sem alimento na mesa. Essa ação se soma a outras iniciativas da administração municipal, demonstrando o compromisso em atender às necessidades da população e construir uma cidade mais justa e igualitária.

Maria Santos, moradora de 54 anos, expressou sua gratidão, ressaltando que as ações da prefeitura comprovam o investimento efetivo na cidade e em seus moradores. “Fico muito satisfeita em ver a minha cidade caminhando bem, em ver famílias felizes na rua curtindo o Natal. Foi mais um ano abençoado, e temos muito a agradecer a Deus por nossa cidade ter uma administração que visa o nosso bem-estar.”

Participação Expressiva e Estímulo ao Desenvolvimento Local

De acordo com informações oficiais divulgadas pela prefeitura, o evento contou com a participação expressiva de aproximadamente 15 mil pessoas ao longo dos sete dias de festividades. Os distritos e a sede foram palco de momentos inesquecíveis, com visitas ao Papai Noel, passeios de trenzinho, distribuição de guloseimas e parque infantil. A ação não apenas levou alegria às famílias, mas também estimulou o comércio local e fortaleceu os laços comunitários.

O Natal Mágico em São Sebastião do Passé se destacou como um marco para a cidade, não apenas pela celebração natalina, mas principalmente pela solidariedade evidenciada em ações que visam o bem-estar de toda a população.

Da Redação

Entre Lembranças e Transformações: Um Retrato de São Sebastião do Passé

Por Augusto Mitchell

Residi em São Sebastião do Passé em dois capítulos distintos da minha vida, ambos permeados por memórias que trago com carinho. O primeiro, em 1990, testemunhou meu pai, anistiado político e ex-ativista na revolução de 1964, ingressar na política local ao se envolver com o ex-prefeito Zezito Pena, Jacildo e a então vereadora Nilza da Mata. Uma segunda passagem ocorreu em 1992.

Na primeira ocasião, aos 14 anos, minha visão já era marcada pela crítica, fruto de uma paixão precoce por observar o movimento da sociedade e estudar sua história. Outro hábito que carrego até hoje é minha atenção aos detalhes do comportamento humano em suas ações cotidianas – seja falando, gesticulando, defendendo-se, acusando, estacionando o carro, passeando com o cão, atravessando a rua, conversando com uma criança ou mesmo descartando o lixo na esquina.

Naquele tempo, em 1990, as músicas que ecoavam nas antigas caixinhas de som de madeira, com tinta azul desbotada, instaladas nos postes da cidade, ainda permanecem nítidas em minha memória. O sol era intenso, e ao som de “Borbulhas de Amor” de Fagner, “All for Love” de Kennedy e uma versão de “And I Love Her” dos Beatles por Zezé de Camargo e Luciano, a cidade respirava uma atmosfera musical singela misturada ao bom cheiro de pão quente oriundos de diverssas panificadoras. As melodias de então, com a eterna sofrência em suas letras que são o “forte” das músicas românticas, eram longe de serem obras-primas, mas o pudor permeava a maioria delas. Sem danças obscenas, paredões ou letras escandalosas mandando as novinhas descerem até o chão.

Ao revisitar a cidade recentemente, mais precisamente em 2020, notei que, infelizmente, parecia ter estacionado no tempo. O mato crescente, vias esburacadas e letreiros arcaicos denotavam uma agonia financeira dos estabelecimentos comerciais, sugerindo uma desistência gradual de permanecerem ativos.

Entretanto, dando um salto no lapso temporal, prestes a completar quatro anos da gestão da prefeita Nilza da Mata, percebo um impacto positivo em vários setores. As ruas, agora asfaltadas e sinalizadas, exibem jardinagem bem cuidada e o movimento em de suas ruas, quase limpas, mas de comércio farto, assemelha-se ao centro de Salvador, o que reflete uma transformação significativa.

Assim, vê-se que os festejos natalinos recentes foram uma grata surpresa, demonstrando uma prosperidade e felicidade que eu não recordava ver na cidade. No entanto, o desrespeito persiste com carros de som ensurdecedores antes das 8 horas da manhã, revelando que, apesar das melhorias, desafios ainda existem.

A gestão atual, indiscutivelmente positiva, continua a escrever uma nova página na história de São Sebastião do Passé, mas é crucial enfrentar tais desafios para garantir um futuro ainda mais promissor.

No entanto, ainda acredito que seja necessário um aumento nos investimentos em políticas educacionais para combater o mau hábito da população de descartar lixo nas ruas. Neste Natal, testemunhei pessoas jogando copos descartáveis nas calçadas, lançando latas de cerveja pela janela dos carros e crianças arremessando ao alto potes de isopor vazios que haviam acabado de usar para sorvetes. Além disso, é preocupante observar menores de idade transitando em alta velocidade em motos com escapamentos danificados e ruidosos, sem o uso de capacetes, representando não apenas um perigo para eles mesmos, mas também para os inúmeros pedestres que circulam diariamente pelas ruas da cidade, muitos dos quais são idosos.

Incidentes Inapropriados na Trilha Sonora Infantil

O Natal Mágico promovido pela prefeitura de São Sebastião do Passé, que encantou a comunidade durante sete dias de festividades, não escapou de polêmicas. Em meio à alegria e solidariedade, a presença de músicas de teor sexual em momentos destinados às crianças menores de idade deixou alguns pais preocupados e revoltados.

Apesar do nítido “punho forte” da prefeita, que é uma mulher admirada por todos, inclusive por seus opositores, as celebrações natalinas em São Sebastião do Passé, que trouxeram momentos de encanto e solidariedade, foram ofuscadas por um episódio controverso durante o evento “Natal Mágico”. Enquanto a prefeitura se esforçava para levar alegria aos moradores, a escolha inadequada da trilha sonora em determinados momentos causou revolta entre os presentes, principalmente pelos teores explícitos de músicas de cunho sexual que ecoaram em espaços destinados às crianças menores de idade. A festividade, marcada por momentos de descontração e solidariedade, viu-se abalada pelos incidentes que desviaram do clima natalino e suscitaram a necessidade de uma investigação interna para apurar as circunstâncias e responsabilidades.

Em alguns momentos do evento, a sonorização reproduziu músicas de TRAP e “PAGODÃO” com letras que exaltavam relações sexuais e libertinagem, causando desconforto entre os presentes. A situação ficou ainda mais constrangedora no trenzinho que transportava as crianças pela cidade, onde as músicas impróprias eram audíveis em meio à inocência infantil.

Papai Noel Chega ao Ritmo de “PITBUL Raivoso”

O ponto mais controverso ocorreu quando o personagem do Papai Noel chegou ao som da música “PITBUL raivoso” do cantor POLLY HITMADO, que se autodenomina “OH POLÊMICO”. Não obstante, o bonde lotado de criança tocou a “música” ‘Piru de Marginal’ do Duck no Beat, Gelado no Beat e Mc Patinhas. As letras da “músicas”, com referências explícitas e inapropriadas para um evento infantil, gerou indignação entre os presentes.

É inquestionável que a música exerce um papel fundamental na formação cultural e emocional das crianças. No entanto, o que presenciei durante o evento levanta uma questão séria sobre os limites da liberdade artística quando esta se torna um veículo para a propagação de mensagens inadequadas.

As letras explícitas, audíveis em um evento destinado a crianças, não apenas quebram o encanto da celebração natalina, mas também suscitam preocupações quanto ao impacto na formação desses pequenos ouvintes. Estudos têm demonstrado que a exposição precoce a conteúdos eróticos pode acelerar o despertar da sexualidade, comprometendo o desenvolvimento psicológico e emocional das crianças.

Crianças de três, quatro e cinco anos em diante, brincam, em evento natalino, ao som de “SOLINHO DA RABETA” de Léo Santana.

Observa-se que na música que aparece no vídeo, o interprete, em alguns momentos, altera a letra original e traz mais gravidade ao mencionar “bota essa bunda no chão, joga a bunda no chão

Ao mando do solinho
Elas não se dão
Acompanha o grave
Prepara a novinha
Pra jogar a rabeta no chão
Eu sei, você quer
Seu olhar não esconde
Chegou o momento
É agora novinha e faz o teu nome
O grave bate rabeta no chão

Dados alarmantes revelam que a erotização precoce está associada a uma série de problemas, desde distúrbios de imagem corporal até comportamentos sexuais de risco. Em uma sociedade que já enfrenta desafios significativos na proteção da infância, a disseminação irresponsável de músicas com letras de teor sexual em eventos infantis é, no mínimo, uma negligência perigosa.

O “PITBUL Raivoso” entoado na chegada do Papai Noel soa como um alerta, não apenas pela sonoridade agressiva, mas pela mensagem intrínseca de conteúdo adulto. Como jornalista, é inevitável questionar a responsabilidade daqueles que escolhem as trilhas sonoras de eventos direcionados ao público infantojuvenil. Não podemos ignorar o fato de que tais escolhas têm repercussões duradouras na construção da mentalidade das crianças e na configuração de uma sociedade saudável e segura.

A promessa de uma investigação interna por parte da prefeitura é um passo necessário para identificar os responsáveis por essa dissonância musical. Afinal, é imperativo que eventos destinados à família sejam espaços seguros e livres de influências prejudiciais. O Natal Mágico, que deveria ser lembrado pelos sorrisos e gestos solidários, corre o risco de ser marcado por uma nota desafinada que ecoa para além das festividades, reverberando como um alerta sobre a necessidade urgente de reflexão e responsabilidade na escolha das trilhas sonoras que embalam os momentos preciosos da infância.

Reação da Prefeitura e Compromisso com Investigação Interna

Ao tomar conhecimento das reclamações e denúncias feitas por alguns pais, o secretário Luiz Claudio dos Reis Lago, em entrevista à AGECOM BRASIL, afirmou que a orientação da prefeitura era clara: apenas músicas natalinas e infantis deveriam ser tocadas durante o evento. Ele expressou surpresa e repúdio pelos incidentes, ressaltando que uma investigação interna será instaurada para identificar os verdadeiros responsáveis pela escolha inadequada da trilha sonora.

Compromisso com a Integridade Infantil e Promessa de Providências

O secretário enfatizou o compromisso da prefeitura em garantir a integridade e apropriada vivência das crianças durante os eventos municipais. “Lamentamos profundamente o ocorrido e reiteramos que medidas serão tomadas para responsabilizar os envolvidos. Não toleramos desvios da orientação estabelecida, e esse incidente não reflete os valores e princípios que norteiam o Natal Mágico em São Sebastião do Passé.”

Contudo, é necessário abordar os aspectos legais e embasamento jurídico relacionados ao evento público que teve uma participação massiva de crianças e adolescentes. Assim, importante é considerar várias áreas do Direito, incluindo o Direito Civil, o Direito Penal, o Direito Administrativo e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

1. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)

O ECA, instituído pela Lei nº 8.069/1990, estabelece os direitos fundamentais das crianças e adolescentes. Em particular:

  • Art. 4º: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.”
  • Art. 17: “O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.”
  • Art. 18: “É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.”

2. Código Penal

Dependendo do conteúdo das músicas e do contexto em que foram tocadas, pode haver implicações penais. O Código Penal Brasileiro trata de crimes relacionados à exposição de crianças a material impróprio:

  • Art. 218: “Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem.”
  • Art. 241 do ECA: “Apresentar, produzir, vender, fornecer, divulgar ou publicar, por qualquer meio de comunicação, inclusive a rede mundial de computadores, fotografias, vídeos ou outros registros que contenham cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente.”

3. Direito Civil

No âmbito civil, os pais das crianças que foram expostas a músicas inapropriadas durante um evento público podem buscar reparação por danos morais. O Código Civil Brasileiro (Lei nº 10.406/2002) estabelece:

  • Art. 186: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
  • Art. 927: “Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.”

4. Direito Administrativo

A responsabilidade administrativa pode ser atribuída à prefeitura e aos organizadores do evento, considerando que houve desvio das diretrizes estabelecidas:

  • Princípio da Legalidade: A administração pública deve obedecer aos princípios da legalidade, moralidade, publicidade, eficiência, entre outros (Art. 37 da Constituição Federal).
  • Responsabilidade Administrativa: Se houver comprovação de negligência ou imprudência na organização e supervisão do evento, os responsáveis podem ser penalizados administrativamente.

Conclusão

A exposição de crianças a conteúdos inadequados em um evento público destinado a elas viola diversos dispositivos legais e princípios fundamentais. A investigação interna prometida pela prefeitura é um passo importante para apurar responsabilidades e prevenir futuras ocorrências. Além disso, as famílias afetadas podem buscar reparação judicial pelos danos causados.

Augusto Mitchell

Jornalista e Bacharel em Direito