Augusto Mitchell: Alma Brasileira

Augusto Mitchell: Alma Brasileira

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Alma brasileira
Por Augusto Mitchell

Vejo mundos utópicos de rara beleza
Não em sonhos, mas na certeza
Isso é verdade;

Vejo mundos separados por grandes fortalezas de belezas desiguais
Às vezes tão próximos que se ferem
E se ferem por serem tão distantes
Triste realidade;

Vermes vestindo cetim fino, sob o nobre chão espelhado de mármores brancos encerados
com o suor de um povo desventuroso
Que vergonha;

Vejo oceanos de incertezas e de fortes correntezas
Há quem vá contra a maré e não volte mais
Muito eu já ouvir falar;

Vejo portas de palácios arrombadas por centenas de vozes
Muralhas despedaçadas em milhares fragmentos democráticos;

Rostos aterrorizados atrás de cortinas de fumaça, cinza fumaça de vergonha;

Maculada, a Constituição Federal agoniza

Cobra-se tudo, mas suas verdades!

Os ventos que outrora eram bons, hoje já não sei se há,
Pois está manchado em sua gente, com requintes de crueldades,
Marcas de uma forjada realidade;

Vejo a divisão de um povo, alma do corpo, corpo da alma;
Quem é quem?
Quem está com a verdade? Que gente esquisita
Prende suposto ladrão, deixa livre latrocida;

Olha o político correndo com a mala na mão. Calma, segura o negro que é ladrão!

Vejo mofinos moribundos desacordados, amontoados e sem “amanhãs”,
Vejo bandeiras tiritantes paradoxais, sem o penhor da igualdade, empunhada por mãos indignas;

País rico, terra férti,
Cresce, desaparece,
Ostracismo sem igual;

Vejo o circo em suas esquinas, “enfeiando” e extinguindo gradativamente sua alegria
Farrapos de gente em suas vias, vielas e favelas de portas sem tramelas, e isso eu também fui
Mas insisto em acreditar que chegarei um dia no seio do seu paraíso ó pátria amada;

Eis que exsurge, ergue-se atrás da linha tênue do horizonte, um novo sol,
Cor de ouro, tesouro do amanhã;

Vejo, de novo, o que não via antes.

Aja sangue, haja vida!
Renasce nova esperança;

Construirei minha embarcação com miúdos de esperança em um casco de sofreguidão
A minha vela será a minha alma verde e amarela;

Caminhando e cantando? Talvez! Sempre sonhando isso eu sei!

Mas jamais vou embora porque aqui hei de morrer!
Verás que um filho teu não foge a luta;

E em vida vou velando meu sofrimento e de tantos outros teus, sobreviventes de alguns naufrágios do passado nem tão distante assim;

Sem certezas concretas de um novo amanhã e apesar de tudo, esbanjo sorrisos de felicidade. Passeio em campos ainda verdejantes, em bosques sem vidas, com vidas sem amores e seus céus sem cantores.

Mas você jamais estará sozinha ó mãe gentil! Sua gente heróica, plácida, porém guerreira contemplará seu lábaro perfeito até o fim.