A falta que o “eu te amo” te faz/fará

A falta que o “eu te amo” te faz/fará

“Eu te amo, Eu te amo, Eu te amo! Uh… uh… uh!”

Nasci no verão de 1975, na cidade de Duque de Caxias no Rio de Janeiro. Fui o filho de número 7 de um casal de nordestinos que fugira de suas raízes por dois motivos: o primeiro e o mais nobre deles, o AMOR! Por amor e por conta de política. Meu pai, filho de uma família rica e tradicional da alta sociedade baiana, se envolvera desde muito cedo com assuntos da política local e chegou a pleitear por duas vezes a vereança em Salvador. Aliás, ele conheceu a minha mãe, CIGANA, enquanto discursava no município de Candeias, interior da Bahia. Na ocasião, funcionário da PETROBRAS, ele fora escolhido “a dedos” por seus colegas, pela excelente oratória, pela riqueza de seu vocabulário e principalmente pela paixão com a qual se dedicara à causa.

Sabe-se lá Deus o que a minha mãe foi fazer naquela cidade, naquele dia e naquela hora. Não tenho mais como colher nada desta velha guerreira e distinta senhora ,já que há uma distância enorme em seu olhar. Como se ela estivesse presa aqui por obrigação. Seu arquivo de vida, o confidencial, jaz em pleno repouso no fundo de um oceano de água serena, mas profundas.

A FLOR DO MATO

O certo é que, por uma força muito maior, a força do destino, ela tenha largado seus afazeres na fazenda de seu pai, em Conceição do Coité; região do sisal, para poder ir, ainda sem saber, ao encontro daquele homem que mudaria por completo e para sempre a sua vida. Seu destino estava selado! Rsrsrsrs Rio, mas escrevo isso com a pele arrepiada e uma discreta emoção irrigando ainda mais a minha já tão hidratada íris. Confesso que me encanto muito como o universo sabe conspirar, com maestria, para que tudo aquilo que precisa acontecer, aconteça! Da maneira e da intensidade que tem que ser. Nada o detém, nada o impede! Às vezes ele dá imensas voltas, por fatores ainda desconhecidos por nós, mas acontece!

O universo é Deus e como diz uma canção da Rita Lee em parceria com Arnaldo Jabor, “…o Amor é Divino…” e sempre será! Convém aqui dizer que esta composição faz todas as referências e divisões precisas entre o amor e o sexo, mas o sexo com amor, o “fazer amor”, disso ela esqueceu ou não quis falar.

Aquele dia na pequena e pacata cidade, caía uma fina chuva, mesmo assim aquela manhã fora deveras movimentada. Havia uma imensa circulação de carros, cavalos e pessoas por todo canto e, principalmente, em volta do palanque onde meu pai esbravejava com veemência as suas ideias, suas opiniões e suas paixões. Rsrsrs Era o jeito dele falar assim quando tinha um imenso querer, não oculto, mas explícito em suas palavras ou subentendidas pelos mais sensíveis. Ele até tentava, mas nunca soubera esconder o que sentia verdadeiramente. Seus olhos o denunciavam o tempo todo. Se contradizia algumas vezes por isso. Rsrsrs

Já quase no findar do seu discurso, ao menor sinal que a minha mãe deixaria aquele local, meu pai interrompeu a sua narrativa e no susto passou o microfone para o colega ao lado. Desceu rapidamente pela frente do palanque ignorando a altura do piso até o chão, mas de logo fora apoiado pelo público que ainda sem saber o porquê de sua súbita saída, o ajudara descer. Pronto! Estava ali livre para ir em direção ao ponto fixo de seu olhar durante todo o seu discurso. Ele se exibia para a minha mãe com as suas vírgulas, pontos e exclamações!! Não haviam interrogações. Não houve! Nunca! Nem das suas ideias impostas, expostas e lançadas ao AR, nem mesmo daquela caçada que iniciaria naquele momento.

Desesperado, ele desviava a todo instante das pessoas que vinham cumprimentá-lo. Minha mãe já distanciava a cada passo dado e ele não escondia o medo de perdê-la de vista para sempre. Ele não seria capaz de viver com a ideia de ter perdido aquela linda morena de cabelos negros e de um olhar tão paralisante e com tanto brilho. Palavras dele! Rsrsrsrs

Conversávamos muito. Eram horas de assunto e debates sem fim. Falávamos de tudo, tudo mesmo, menos do amor que sentíamos um pelo outro.

Sei que ele não esqueceu mais a minha mãe desde aquele dia. Então, ele foi até a fazenda de seu pretenso sogro pedir a mão da linda donzela em casamento. Cabra de coragem, pois um gajão chegando no meio do nada em uma terra de ciganos querendo ali, de imediato, romper uma tradição e levar consigo uma cigana já prometida.

Ainda não sei o que houve para ter havido uma negativa da família de minha mãe, mas quanto a de meu pai… A alta sociedade era aversa a ter uma pessoa da roça em sua refinada mesa de jantar. Ainda obrigara o meu pai a se decidir de que lado ficaria. Da herança ou do amor? Rsrsrsrsrs Perdoe-me! Mas não sei se devo chorar ou rir neste momento. Talvez um pouco dos dois. Como um dia de sol e chuva. O que posso falar e que, se cá estou eu, mais uma vez emocionado contando para vocês essa história, é porque o AMOR venceu todo o preconceito e todas as barreiras que lhe foram impostas. Ahhh! o AMOR. Como diz o Fábio Júnior, “Tudo, tudo, pode o amor ganhar. Leve o tempo, passe o que passar, a noite vem, o dia vai…”

A FUGA

Seguindo… Aproveitando o período da revolução em 1964, onde meu pai precisara “fugir”, fugiram os dois. Meu pai e a minha mãe. Rsrsrsrs Foram tempos difíceis para todos nós, pois o meu pai levara consigo apenas o seu conhecimento e sabedoria do bem e para o bem. Digo “apenas” por uma questão de ser a única coisa que ele tinha naquele momento. Claro, além do amor que já sentia por minha mãe e que o fizera se desprender por completo de todos os luxos que estariam à sua disposição em uma já projetada vida de “playboy”. Minha mãe porém largou muito mais que ele!

Em uma família de 13 irmãos, minha mãe vivia de forma simples, como o nome que recebera em seu batismo. Maria! Mas havia ali, no seio daquela família, muito carinho entre eles. Meus avós maternos ciganos sempre deram o suficiente para todos: Atenção, amor e uma educação ética sem igual. Não há nenhum relato que desabone tão límpida conduta de meus tios e tias. Todos guerreiros, valentes e honestos. Tenho orgulho de todos eles e sinto muito por não ter em meu nome o sobrenome deles: “CARNEIRO”.

Então, passaram-se alguns anos e agora lembro-me de alguns momentos já que eu havia entrado em cena. Lembro de poucas coisas no Rio, pois não demoraria a nossa vinda para a Bahia. Então, do que eu lembro aconteceu no intervalo de quatro anos. São memórias de um garototinho. Rsrsrs Idade que o meu filho Arthur tem agora. As lembranças são de fatos muito marcantes. Lembro de uma vitrola no alto de uma estante onde meu pai ouvia seus discos de vinil. E ele tinha vários. Eu ainda lembro do cheiro encantador que saía de dentro das capas dos discos. Só quem viveu esta agora “primata” tecnologia, sabe do que estou falando.

Entre os LP’s, Alcione e o seu sucesso: “Não deixe o Samba morrer”, Benito di Paula e a sua música “Meu amigo Charlie Brown”. (Não! Ela não é e nem foi feita para o cantor Chorão! Kkkkk}, Mas do que mais lembro é de meu pai , vestindo uma camisa vermelha com uma âncora estampada em preto na frontal e uma calça pinçada de cor caqui. (Meu Deus, que estilo. Kkkkk], Ele agachado no quintal chorando ao som do recém comprado LP do Gilberto Gil. Ironicamente o refrão da música mais escutada fazia um lindo apelo: “Oh não chore mais!” Uma versão da música “Woman no cry” de Bob Marley. Eu nunca soube o que motivara aquele choro desenfreado de meu pai. Nunca o tinha visto chorar e nem nunca mais vi. Nem mesmo quando ele estava por partir em seus últimos dias. Havia , decerto, muito sentimento naquele homem.

O BAÚ PERDIDO

Resumindo bastante a história, meus pais estiveram juntos até quando Deus quis. Após a partida dele, minha mãe viveu ainda alguns anos de consciência plena, mas não escondia a dor da saudade. Hoje, como já disse, ela abrigou-se dentro de si. Foi sim uma linda história de amor. Mesmo que em alguns momentos eu ter achado que meu pai, às vezes, passava da conta, errava na dose. Tinha muito ciúme e isso nem sempre é bom. Mas quem aqui é capaz de entender as diversas formas de amar e a sua dose perfeita? Eu? Nem em sonhos! Sou humano, por tanto, imperfeito. Não sou Deus!

De tudo que vivi ao lado deles, eu nunca os vi falando “EU TE AMO”, mesmo sabendo que não haveria a menor possibilidade de não ter existido o tão evidente e devastador AMOR que os conduzira por toda a vida. Porém percebia que cessavam as conversas, calavam-se completamente quando no rádio tocava a música do Roberto Carlos, a qual coloquei propositalmente seu refrão no subtítulo desse texto. “Eu te amo, Eu te amo, Eu te amo! Uh… uh… uh!” Também existiram outras canções que compunham a trilha desse romance. Eles pareciam se comunicar e se entender por música. O que de imediato me faz lembrar uma outra canção. Kkkk Dessa vez uma do grupo Roupa Nova: “…Eu pensei te dizer tantas coisas, mas pra quê, se eu tenho a música, música.”

Tá, ok! foi até bonitinha essa minha colocação, mas a sensação real é de que sempre faltou algo ali. Dessa vez o dito, o falado e deveras sentido: EU TE AMO! Pouco importa se for antecedido ou sucedido de um “baby” ou de uma discussão tola. Contudo, nada melhor para selar ou acabar com uma discussão de vez, que um beijo e um “Eu te amo”, ou, um “Eu te amo” e um beijo. Rsrsrsrs!

εїзεїзεїз

Palavras não ditas entalam na garganta e roubam o ar. A respiração fica pesada e a voz embargada.

εїзεїзεїз

O SILÊNCIO!

Eu nãos posso julgá-los por não ter presenciado o “EU TE AMO” entre eles. Nem vivi toda a história. Cheguei com o “bonde andando”. Ademais, eu também não consegui falar “EU TE AMO” para meu pai e nem ele para mim, mesmo nos amando de maneira tão sobrenatural. Mas há esse eco em minha vida! Um silêncio ensurdecedor e um grito calado ora reprimido pela vergonha de expressar o que eu sentia por aquele homem. E agora? Ele partiu! Foi embora e o “Eu te amo” até pode ser falado, mas não poderá mais ser ouvido. Às vezes falo ao vento e peço que o vento leve para onde ele estiver. Em compensação a minha mãe , que é cercada de de mimo por toda a família, ouve de mim e de minhas irmãs todos os dias. “Te amo mãe!”

Essa foi mais uma experiência em família que moldou para melhor o homem que sou, o meu SER. Entendi de uma vez por todas que não devemos reprimir, esconder ou hesitar em falar o que sentimos. Vejo muitas famílias ainda com certo tipo de bloqueio quando o “EU TE AMO” é de fato ali sincero, sentindo, mas não falado. No entanto vejo “EU TE AMO” sendo jogados aos montes no ar, sem sentido e sem sentir. São “paixões” superficiais, ilusórias e porque não dizer, breves que trouxeram tanta fragilidade e tanta descrença para essas três palavras unidas de forma tão mágica.

AMOR CURA/AMARGURA

O amor expressado nessa pequena frase é algo extremamente forte e não pode ser tão contraditório ao cair em desuso por quem ama e virar bordão na boca de quem apenas tem duvidas do que sente ou quer impressionar o parceiro. Neste último caso, cuidado! É agora uma faca de dois gumes. O “EU TE AMO” pode afastar quem tem medo do envolvimento e/ou só quer o momento viver. De maneira fria. Do gozo do corpo, não da alma!

O que tenho visto muito nos dias de hoje é algo inimaginável ou sequer tolerado pelos amantes de outrora. O desapego! Fica mais quem mostra o menor querer!? Não entendo o mundo como está agora. Rrsrsrs Sim! Estou rindo e sem lágrimas. Não há sol e nem chuva em meu olhar. Estou indiferente, porém ainda perplexo. Que saber? OLX nela! KKKKKK

Baby, o tempo vai passar para todos e todos também vão um dia chegar em uma fase de análise de toda a sua trajetória. Talvez na crise dos quarenta como uma irmã minha insiste em afirmar que estou. Eu já fiz a minha e posso falar em música de novo? Rsrsrs Já deu para perceber que a vida para mim é música, ou na ordem contrária da frase também. Rsrsrsrs

Então:

“Tem dias que eu paro, me lembro e choro, Com medo eu reflito que não fui perfeito… Ahhh como eu amei. Ahh Eu caminhei, Ah não entendi!”

Desse lindo trecho da música do Benito di Paula, dou-me a liberdade de fazer uma ementa. “Ahh Quem é perfeito? Ahh Se amei onde errei?” Não há erros quando exite amor. Tudo que fazemos enquanto amamos é para um único propósito. Tornar aquilo o mais duradouro possível. Mas como? Quem disse que o controle está em nossas mãos? Erramos sem querer então. Lembra da força que as coisas têm quando elas precisam acontecer? Do universo fazendo do tempo o seu instrumento para o seu destino cumprir! Talvez um momento de tristeza seja apenas mais uma volta que a vida dá para mostrar a real importância das coisas.

PALAVRAS NÃO DITAS!

O fato é que nas entrelinhas do que aqui escrevo, há de fato um imenso pesar, um sentir. Pelo silêncio que não queria ouvir, pelo dizer do que sentir e do senti o que não quis ou não pude dizer. Boa parte aprisionado no passado, distante e nem tão distante assim. No entanto, quase não há mais presentes no presente e nem mesmo a presença dos ausentes que se foram sem querer ir e nem muito menos de quem não quis de fato ficar. Do futuro “Nada sei, nada saberei, sigo sem saber…”

Entre as palavras não ditas devo peguntar quem está dizendo “Eu te amo” para você agora baby? Quem vai poder ouvir o seu “eu te amo” afinal? Talvez ninguém ouça. Nem seus pais!

Aqui hoje, em minha frente, parcialmente encoberto pela tela do meu velho computador cheio de velhas lembranças, o meu filho! E olha que coisa! A todo instante ele vem, me dá um beijo e diz: “Papai, eu te amo!” Respondo de imediato para ele: “O pai também te ama muito meu filho!”; Tomo apenas cuidado para que a emoção que insiste em me consumir, não saia ondulada em minha voz. Ele percebe!

Com tudo e para tudo o que quero dizer afinal? Que não há tempo a perder! Quem sabe quanto tempo ainda resta para nós, para mim e para você? Ninguém nunca sabe quando será o último capítulo do livro cujo o destino é o autor.

Ame-se sim! Sempre! Mas cuidado com a dose do amor demasiadamente próprio. Amar-se por demais pode tornar-te um tanto quanto frio, ou ainda, revelar uma espécie de egoísmo oculto já preexistente em seu subconsciente.

Permita-se amar e ser amado também. Feche os olhos, sinta e queira ficar! Seja paciente porque nem sempre o amor acontece de imediato. Há de se levar porém um tempo, tempo exato para amar. Principalmente em um corpo violado, velado em vida com coração já espancado e torturado. Há de se ter calma, paciência! O melhor para você é o que te faz e o que te quer bem, meu bem.

Quando amar diga em alto e bom som. “EU TE AMO” com porra ou sem porra. Porra! Amar calado só é gostoso na música do Lulu Santos. Ok? Faça isso antes que a sua vaidade, seu orgulho e seus medos transforme o “EU TE AMO” da sua vida em um grito calado ecoando em seu ouvido ou entalado em sua garganta, sufocando a tua voz e limitando o teu AR para sempre.

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Poema que fiz! De meu pai, para a minha mãe.

Eu te A…

Ontem, manhã rútila, cândida primaveril,

Névoa dissipada, flashes de luz, luzes e do amanhã,

Anjo de rosto encoberto em meio a multidão, aparece, de repente.

Mas lentamente quis sumir.

Não permiti. Não pude!

Meta do meu querer, do meu estar. Te busquei, buscarei.

Metade de meu SER, metade de mim!

Onde pensas que vais? Te dou meu ar, um lar. Dou-me a ti!

Longo e sinuoso caminho foi seguir-te, flor do mato!

Longo e caprichoso caminho foi para viver-te! Riqueza melhor não houve.

Aonde quer que vais, me acharás. Hoje e sempre!

Tu que “…tens a boca mais linda que a minha boca beijou”, foi-te só minha e eu só teu!

“Sonhar contigo, por toda vida, sonhar contigo, meu amor, minha querida!”

“Fica comigo esta noite, seremos felizes”.

“Tu és a criatura mais linda!”

Cigana, linda como a noite…linda!

“Vai andorinha, vai ligeira…”

Leve-me ao meu talismã!

No acelerar dos nossos corações, os anos.

Houve silêncio, silêncio ouve-se agora e não para sempre.

Mergulho no oceano do seu consciente ora distraído,

Te ouvirei amor meu!

Deixo-te frutos de mim, de nós, do amor intenso,

mas deixo-te também o meu findar.

É passageiro, fui e sou passageiro.

Fui pó, sou música, sou verso e agora vento e luz!

Esqueci de viver, mas não de você.

A música que toca ao longe é linda, é nossa!

A distância não vai impedir.

No tempo, em tempo, venho e um dia te levarei daí

Vens para comigo estar.

E.. assim o tão esperado Eu Te… Eu te amo falar!

Eu te amo! Eu te Amo! Eu te amo!

J.Augusto