Somos e sempre seremos todos iguais!

Somos e sempre seremos todos iguais!

Universitário Pedro Baleotti pediu desculpas por vídeo e disse que não é racista Foto: Reprodução/internet

Universitário Pedro Baleotti pediu desculpas por vídeo e disse que não é racista Foto: Reprodução/internet

O estudante de Direito Pedro Baleotti, de 25 anos, envolveu-se em uma polêmica após a divulgação de um vídeo em que faz declarações racistas e de apoio a Jair Bolsonaro (PSL). No vídeo, gravado em Londrina (PR) e publicado nas redes sociais no último domingo, Baleotti aparece dirigindo, vestindo uma camiseta preta com a imagem de Bolsonaro, e declara: “Estou indo votar ao som de Zezé, armado com faca, pistola, o diabo, louco para ver um vadio, vagabundo com camiseta vermelha e já matar logo”. Em um momento posterior, ele aponta o celular para dois homens negros em uma moto e diz: “Tá vendo essa negraiada? Vai morrer! Vai morrer! É capitão, caralho”.

A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) instaurou um inquérito para investigar o caso. Em resposta à repercussão negativa, o Mackenzie suspendeu o universitário, e o escritório de advocacia onde ele atuava como estagiário optou por demiti-lo. Baleotti pediu desculpas publicamente e afirmou não ser racista.

ENTRE-VISTAS Por: Augusto Mitchell

Desde criança, desde o meu primeiro entendimento como gente que eu escutava da boca de meus pais: “Somos e sempre seremos todos iguais.” Ainda sem compreender o real sentido da frase, eu sabia que era algo muito importante.

Fui crescendo e só com o tempo que comecei a processar as informações que estavam tão explicitas naquela até então enigmática frase. Não, eu não era lento! Rsrss Era uma criança do meu tempo, no seu tempo certo! Em uma mão o barbante puxando um carro feito com lata de óleo e, na outra, um doce que era famoso na época. RSrsrsrs A meninada de hoje nunca vai saber a magia que tinha o doce Zorro. kkkkk

Então, na minha inocente compreensão, apenas achava que era uma redundância gigantesca. Mas claro que somos todos iguais. Tenho tudo que os colegas têm. Braços, pernas etc. Porque haveríamos de ser diferentes? Hum? Pensava eu de uma forma que hoje me faz lembrar o personagem do desenho animado da década de noventa: “O Fantástico Mundo de Bob” e o seu tio Ted. Rsrsrsrs. Eu nunca imaginei que meus pais queriam falar de cor ou de alguma outra condição que pudesse nos fazer distantes ou diferenciar um dos outros vista apenas pela ótica de quem não sabe o que é o amor em sua plenitude.

A criança não enxerga cor, nem condição social. A criança é a pura essência do ser humano antes de conhecer a maldade do mundo. Deveríamos voltar correndo à condição infantil.

Aos 7 anos, morando ali na escadaria da Travessa do Ferreira Santos, eu só queria brincar e brincava muito, o dia inteiro. Ainda não estudava, nem eu e nem minhas irmãs. Pois meu pai vivia o medo que o perseguira a vida inteira. Afinal, ele foi caçado, preso e torturado durante a revolução de 1964. Ou golpe como alguns insistem em chamar.

Amenizado o trauma da ameaça iminente perseguição do DOPS, e, ainda, dando um salto na linha do tempo, anos mais tarde, só em 1984 que conheci as letras e aquele mundo maravilhoso de conhecimento aberto que estava escondido de mim. Como um vale lindo encoberto por montanhas em volta. Eu vi o vale do conhecimento e me apaixonei.

Já tinha 9 anos e lembro-me ainda do nome e da fisionomia da minha primeira professora. Margareth, uma senhora de aparência frágil,magra e doce, mas muito forte em seus argumentos e ensinamentos. Eu ia surpreender aquela mulher tão dedicada na preciosa missão de ensinar. Naquela escola pública,a já extinta Major Sebastião Borba, localizada na rua do Salete, nos Barris, eu teria uma das maiores experiências em minha vida.

Ainda patinando nos estudos, diante da turma avançada, eu me esforçava ao máximo para acompanhar. Aprendi a ler muito rápido para surpresa de todos e até minha também. Rsrsrsrs De lá “pra” cá, leio tudo que encontro pela frente. Tenho fome de letras e fascinado por histórias e estórias.

Lembro de poucos colegas da classe, apenas de dois em especial: Roberta, uma loirinha linda que já me despertara ali a vontade de inaugurar a minha escrita e mandar cartinhas para ela. Hehehehe! E, é claro, de Luis. Um menino de estatura forte, bonito e que apesar de sua notória vulnerabilidade social, tendo em vista a sua constante fome, a falta de merenda e sua farda enxovalhada com o tecido comido por traças e longas emendas com linha contrastando com cor do uniforme, Luis sempre tinha um sorriso estampado em seu rosto. Aliás, era a única coisa que eu via de branco nele. Os dentes! Era inteligente e sensível, talvez a sensibilidade daquele garoto tenha feito eu me aproximar tanto. Dele e de Roberta. Rsrsrsrs Ah! Ela não era tão sensível assim, mas de alguma forma me encantava.

Eu assim como hoje, percebia o mundo em minha volta, o tempo todo! Formatava ideias das mais diversas e criativas a fim de melhorar o mundo. Esses contos a minha pró Margareth ouvia junto com a classe toda. Ela, apoiando seu queixo no punho fechado em seu braço sobre a mesa não escondia o contentamento em me ouvir, e vez em quando, me olhava sob seus óculos de armação tigresa, como se não pudesse acreditar no que ouvia dado tamanha criatividade e pretensão dos “projetos” e das novas “leis”. KKKk Ela falava isso comigo sempre depois da aula. Juro que não lembro mais de nenhuma dessa prosa. Rsrsrs Adoraria contar aqui também.

Tal comportamento descolado e comunicativo, para não falar CONVERSADOR, me fizera o líder da turma.KKKK eu também era o mais velho! Rsrsrsrsrs E foi justamente como um líder que eu tomei uma grande decisão! Todos os dias para ir à escola, eu saia do centro da cidade, passava pela praça da Piedade, descia a Junqueira Ayres que no tempo não tinha shoppings. A casa de Roberta era naquela rua e acho que foi uma das residências que foram demolidas para dar espaço ao Shopping Piedade que no ano seguinte seria inaugurado no local. Como passava por ali a semana toda, vi que tinha um bar que comprava garrafas de vidro. De cerveja e refrigerante. Que tempo bom! Não existiam as malditas garrafas PETS e o seu descarte tão irresponsável ainda! Dando continuidade, quando vi um pedaço de papelão escrito com vários e insistentes riscos de caneta: “Compra-si garrafas de vidro”. Logo me deu um estalo na mente!

Coloquei então em prática um plano ainda secreto. Saí no sábado pedindo garrafas de vidro por onde eu passava. Juntei algumas dezenas. Na segunda-feira fui até o dito estabelecimento que ostentava aquela placa tão chamativa aos meus olhos. Levei poucas garrafas, pois o peso era muito para a minha idade e estatura franzina. Ao chegar no balcão do bar eu perguntei: “- Ei moço, boa tarde! Eu queria vender algumas garrafas de vidro aqui para o senhor.” Ele olhou meio desconfiado para mim e assustado me respondeu com uma saraivada de perguntas. Mais parecia uma metralhadora descontrolada do que um atendente de botequim. “-Menino, essas garrafas são de onde? Seus pais sabem que você tá vendendo isso? Você mora onde? Para quê quer o dinheiro? Qual seu nome? KKKKKKKKKKK

Demorei um pouco para me recuperar do susto daquela surra de perguntas e cuspe! kkkkk Mas respondi apenas uma delas ainda enxugando o rosto e com os olhos um pouco acima da altura do balcão. “-Moço, eu pedi as garrafas pela rua para poder vender aqui. Estou precisando muito do dinheiro” Ele calou-se e começou a contar as garrafas.Logo depois veio com um bolo de dinheiro, não era muito, mas acabou sendo já que eu não nunca tinha visto aquele montante. Confesso que não sabia o valor que estava vendendo cada uma delas e nem contei o que ele estava me pagando. Apenas peguei o dinheiro e corri em direção à porta da rua. Quase já saindo daquele recinto com um cheiro forte de pinga e banheiro, com o corpo metade fora e metade dentro, voltei e fui falar com ele! “Ei moço, preciso falar algo com o senhor! O senhor pode consertar aquela placa ali? Está escrita de forma errada. O certo é…” Peguei um papel que vinha dentro das carteiras de cigarros e comecei a escrever. “COMPRA-SE GARRAFAS DE VIDRO” e dei para ele. Ele riu e passou a mão na minha cabeça assanhando meu cabelo como se tivesse aprovado a minha ousadia em corrigir um homem tão mais vivido que eu.

De posse daquela “pequena fortuna”, coloquei em prática o meu plano. Nos primeiros dias eu comprei lanche para levar à escola, mas não era para mim. Era para o meu colega de classe, dos dentes alvos. O Luis! Zezão, como era mais conhecido, riu como nunca. Rinhamos juntos, jogávamos bola juntos, desenhávamos juntos. Nunca soube onde ele morava, mas o nosso mundo era a escola.

Daí em diante, comecei a convidar alguns colegas para catar garrafas comigo e dividir o dinheiro com todos que precisavam mais que eu. Ali já me excluía, não porque não precisasse também, mas porque queria ver sobrar mais para o meu quase irmão Luis, o negão como os meninos chamavam, poder levar o dinheiro para à sua casa e a sua mãe comprar-lhes uma calça nova.

No outro dia a mãe de Luis apareceu na sala para falar com a professora, afinal o filho dela estava chegando em casa com dinheiro dizendo que tinha conseguido na escola. Pronto! Fomos descobertos! A pró Margareth me chamou para conversar depois que Luis colocou o meu nome na roda. Ele já tava chorando detido firmemente pelo braço de sua zelosa genitora. “- Jarlei, o Luis me disse que foi você quem conseguiu esse dinheiro. Conseguiu onde? E como?” Perguntou a professora. Eu ali não entendi porque o ele, o Luis, não tinha contado. Afinal, não era crime. Mas logo entendi que ele estava tomando pelo medo de uma pretensa surra. E olha, acho que já estava tudo preparado para isso. KKKKKKK Provavelmente levaria a minha quando chegasse em casa, já que a minha irmã mais velha, de certo, contaria tudo.

Relatei com detalhes para a minha professora com a mãe do meu amigo como testemunha. Imediatamente a minha professora, me perguntou! “-Menino, de onde você tirou essa ideia e por que fez isso?” Eu respondi, mas já tinha começado a ficar com receio da situação. “-Professora, fiz para ajudar ao Luis e todos que precisam de ajuda.” Ela novamente me perguntou, “-Mas por que?” Juro que não quele momento tudo que me veio na mente foi a frase que eu iniciei esta narrativa: “Porque somos e sempre seremos todos iguais.” Naquele momento tudo tinha se encaixado em minha mente. O enigma foi decifrado por mim. E daí foi a vez da minha professora chorar.

Ora, vejam bem amigos, todo o bem que fazemos não precisa ser divulgando como se isso fosse uma peça publicitária para nos render homenagens. Ser honesto e ser do bem não é mérito para ninguém! É a nossa obrigação. Mas fui buscar essa historia longe, lá na minha infância para não precisar citar casos mais recentes. Fiz aqui o resgate desse momento que nunca saiu de minha cabeça, apenas com propósito de deixar evidente a verdadeira importância da educação, não a da escola somente, afinal mesmo com toda a atenção que a minha querida professora sempre me dedicou, ela foi surpreendida. A escola dá conhecimento, quem forma o cidadão, além de sua essência, é a família. A base familiar vai dizer muito sobre o futuro de uma criança.

Hoje, depois de velho, a cada dia sou ainda mais grato pela educação que recebi de meus pais. Pelos valores éticos que me foram impostos às vezes à duras penas, mas pude extrair deles e que hoje faz parte do meu caráter quanto homem e cidadão. É isso a minha maior herança para o meu filho de 4 anos.

De verdade, preocupo-me muito com o nosso futuro. Temo o nosso futuro pelo que já presencio no presente. Por exemplo: Como pode, depois de termos caminhados tanto, depois de ter visto tantos atos desumanos na história da humanidade, ainda existir pessoas com o pensamento tão retrógrado? Tão primata? Como podemos ter vivido tanta coisa e ainda assim não ter aprendido nada? Que “evolução regressiva” é essa?

Tem hora que penso que isso só pode ser coisa dessa futilidade firmada na necessidade de aparecer a todo custo, a todo preço, a todo tempo! O que é? Vivemos onde? Nas “timelines” das redes sociais, ou na vida real? Mas não! Infelizmente não é só culpa da internet. O mal sempre existiu. A internet é só uma ferramenta!

O que falta para uma pessoa dessa entender que somos todos iguais? Seus pais falharam ou o problema dele é muito mais que algo superficial? Será que está oculto em sua mente tamanho absurdo? Como posso aceitar o pedido de desculpas dele? Não é algo brando o que ele fez. É uma imensa perna do mal que há dentro dele.

Eu não entendo como ainda existe gente capaz de discutir sobre a cor de nossa pele? Quem aqui no Brasil é “puro” de raça? Eu não sou! Até onde pude pesquisar, tenho tantas misturas que me considero um dos mais mestiço. Fosse eu cachorro, seria um autêntico vira-lata. Mas e daí? O que tem demais com os cães vira-lata? O que tem demais em ser branco, negro, pobre, gay, de direita, ou esquerda? O que tem demais em ser do nordeste ou do sul?

Verdadeiramente, sinto uma tristeza tão profunda ao saber de casos como este que minha carne parece fritar, tirita!

Nossas peles podem ser branca, negra, vermelha, marrom, amarela, mas é vermelho o nosso sangue!!

Que sejamos mais humanos e menos primatas! Que tenhamos mais amor compreensão e principalmente que o respeito pelo próximo seja muito mais que uma palava apenas. Que seja o “AMOR” e o “Respeito” os valores ostentado!

Fly me to the moon!

https://oglobo.globo.com/…/po